sábado, 21 de janeiro de 2012

Sangue, lágrimas e uma bandeira hasteada!

Meu nome é Amanda, tenho 23 anos, há pelo menos 6 faço parte do movimento estudantil e vivi na última sexta-feira um dia que, com toda certeza, divide minha militância em duas partes.
Vou tentar, de forma ainda assustada, relatar o que aconteceu aqui.
São em torno de 7h da manhã e eu estou chegando na frente do Ginásio Pernambucano pra encontrar a militância da UJS e das entidades estudantis que compunham o ato contra o aumento de passagens, pensado pelas mais diversas correntes juvenis do estado nos dias anteriores. Encontro Amanda Barbosa, dirigente da UJS - Recife e Thauan, presidente da UEP, já na frente do GP.
Aos poucos os líderes estudantis vão aparecendo e a juventude vai chegando, o que dá corpo e volume a nossa passeata. Em torno das 10h da manhã, após cerca de 2h de intervenções que garantiam a nossa opinião sobre a condução do ato, resolvemos sair em passeata e tomar a Conde da Boa Vista (via principal do centro do Recife).
Ao apontarmos na Cde. da Boa Vista a surpresa: o batalhão de choque da polícia militar nos aguardava com aparato policial suficiente para acabar com a atividade a hora que julgasse necessário. Mesmo com esse novo momento, decidimos, de forma corajosa e coerente, dar continuidade ao nosso ato independente do posicionamento do batalhão.
Tudo caminhou mais ou menos tranquilo até a chegada as proximidades do Cais de Santa Rita (maior terminal de ônibus do Recife), alguns atritos entre nós e aqueles que deveriam, pelo menos em tese, nos proteger, mas nada que justificasse o aconteceu ali.
Se tornando o palco da maior injustiça e agressividade que eu já pude presenciar. aquelas ruas ficariam marcadas pela ofensividade da polícia, o pavor da população e a coragem de cada estudante ali presente.
Enquanto nos reuníamos para decidir qual seria nosso posicionamento por estarmos cercados pelos homens de preto, um grupo de estudante achou uma brecha para tomar uma das vias principais do local, e assim o fizemos!
De forma totalmente arbitrária são lançadas conta nós,e toda a população ali presente, bombas de efeito moral, gás lacrimogênio e suas tão famosas balas de borracha...
Vivi, durante poucos minutos, momentos que nunca vou conseguir esquecer.
O barulho da bomba estourando a poucos metros de mim, meus camaradas correndo, cada um se protegendo da forma que conseguiu, a mão de Rafael Costa no meu braço me ajudando a continuar resistindo (talvez deva a ele a liberdade que me garantiu continuar no ato), os gritos, o desespero, a contradição.
Não me lembro de ter vivenciado ou visto nada parecido com isso desde dezembro de 2005.
Dali em diante tudo só piorou!
Conseguimos dispersar e nós encontrar na Faculdade de Direito do Recife, palco de tantas lutas e tantas conquistas da sociedade brasileira, com a preocupação de garantir que o BPM não invadisse nossa plenária, já que não podiam entrar naquele espaço.
Depois de mais uma plenária, decidimos continuar o ato (agindo, como desde o início,com pacificidade).
Num ato ainda mais repressor, a PMPE triplicou sua tropa e garantiu mais pânico e correria.
Mesmo não entrando no espaço da faculdade, garantiu suas bombas de gás lacrimogênio com um ótimo alcance. Atingindo estudantes e TRABALHADORES que se encontravam presentes.
Sair dali me deu a sensação de alívio e horror.
Talvez eu não consiga olhar pras ruas do Recife da mesma forma, assim como a noite ouvia o barulho das bombas estourando ou me assustava ao ver uma viatura da policia, mas eu tenho uma certeza, é essa luta que me move! É ver que no alto estará sempre hasteada uma bandeira da UNE, uma bandeira da UBES... E mesmo sangrando, defenderei sempre o povo! Até a vitória... Ou até a morte...

5 comentários:

  1. E eu quero ver vc escrevendo sempre agora! Parabens!

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  2. Lindo texto! Esse também será um dia que marca minha vida política e de militância! Nunca o esquecerei. Juntos por uma sociedade soberana, pelo respeito ao povo! Viva a UNE, viva a UBES, viva todos os estudantes que com bravura lutaram pelos seus direitos!

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  3. Me arrepiei ao terminar de ler! Quem é de luta, não foge da raia e enfrenta o leão, até a vitória!

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